quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Do Céu ao Inferno em Segundos

Usuários de Crack-Foto Internet

Tenho três anos e seis meses de São Paulo, já vi e ouvi muita coisa estranha. No início eu dava esmolas depois resolvi trocar as moedinhas por lanches, pães ou biscoitos. Depois não dei mais, eu gasto muito por morar no centro, preciso pagar aluguel, as contas da casa, a comida e ainda tinha que agradar os moradores da rua.

Umas das primeiras lembranças que tenho em São Paulo e guardo é a de uma moça que não tinha mais que 23 anos e estava grávida, uma moradora de rua, sempre passava por mim e falava "Tio me dá um cigarro", eu sempre estava fumando então ria e dizia que ela não podia fumar por causa da criança.

Ela sorria e saia andando sem insistir. Vi durante alguns meses aquela barriga crescer e a moça sempre andando e pedindo cigarros. Ela desapareceu ou da minha mente ou das ruas próximas de casa.

Uma semana atrás eu descia a Martins Francisco e a encontrei sentada na calçada, a visão da moça me causou certa alegria, saber que ela ainda está viva. Essa alegria passou "fui do céu ao inferno" em segundos. Ela me olhou e sem expressar nada, disse "eu quero um real" respondi "não tenho" mas diminui o passo. Ela disparou "quero completar essa miséria para comprar uma pedra" com a mão repleta de moedas.

Nunca tinha ouvido isso de alguém não parei para pensar na hora, continuei andando. Cheguei em casa, tomei um banho, deitei e fiquei imaginando, as pessoas ficam tão envoltas pelas drogas que acabam se tornando "honestas".

Elas querem que você saiba o que vão fazer com a Grana, Fico com medo de ser abordado mais vezes com frases semelhantes. Agora toda noite olho da minha janela para o minhocão que corta uma parte Amaral Gurgel e a São João e enxergo dezenas de pessoas fumando.

São pessoas que acendem os cachimbos durante horas. Quando a droga acaba ou sei lá o que acontece, eles descem pelo acesso a Ana Cintra, atravessam a São João e somem.

Não sei o que fazer, tenho inclusive medo de subir o minhocão para tentar ver mais de perto. Fico procurando a moça, fico procurando uma luz.

Um comentário:

  1. Isso é um problema bem maior, não há nada que se possa fazer de imediato, mas um post/denúncia como esse já é alguma coisa..
    melhor que ficar olhando da janela e reclamando pra um apartamento repleto de ruídos da rua!

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